Discursos de posicionamento
Por Emanuel da Silva |
Quando fui convidado a escrever um texto sobre os conceitos de “discurso, identidade e comunidade” fiquei muito animado porque tenho questionado este triunvirato desde criança – nascido e criado em Toronto, no Canadá, filho de pais de Portugal continental – e eu sempre quis saber como a língua era usada para perceber o que é ser português, canadiano, ou sei lá o que for. Ao longo dos anos, comecei a ver que havia diferentes maneiras de ser português, e a ouvir diferentes maneiras de falar português, enquanto os discursos dos políticos vindos de Portugal e dos líderes comunitários em Toronto eram sempre os mesmos: “somos todos portugueses!”, “devemos todos falar português e ter orgulho de ser português!”
Eu cresci a pensar que isto era normal, que era assim que os grupos de imigrantes e as comunidades diaspóricas mantinham a coesão social e a unidade. Foi só quando comecei a notar que certas maneiras de ser e de falar tinham consequências é que eu soube que tinha uma questão de desigualdade sociolinguística que merecia ser estudada. A resposta discursiva normativa aos debates sobre identidade (ou qualquer outra forma de categorização social) de privilegiar a similaridade acima da diferença, a uniformidade acima da diversidade, é quase tão problemática como uma resposta pós-estruturalista de discursos que privilegiam a diversidade e a diferença sem também questionar as relações de poder estrutural que limitam o que é incluido e excluido destes debates, e por quê. Se é o apelo de Brubaker e Cooper para pensar “além da identidade” (Beyond "identity". Theory and Society. 29:1-47. 2000) ou o apelo de Block para “o realismo crítico” (Social class in applied linguistics. New York: Routledge. 2014), as nossas análises críticas do discurso devem cada vez mais adicionar uma análise materialista com dimensões políticas, econômicas e históricas.